Finados e Eleições. Tudo a ver!


Quem acordou, na manhã desse dois de outubro, com a sensação de que vai sair de casa para prestar uma obrigação não muito prazerosa e que dá tristeza a ponto de chegar às lágrimas, pode antecipar o dia de Finados para o dia das Eleições.
Ainda que distantes por um mês, as duas datas guardam profunda relação, ao se considerar que são inesquecíveis. Não há como não compreender que elas mexem com sentimentos, razão, ação das pessoas, principalmente as mais convictas de que mudanças podem e devem ocorrer.
Ainda que os endereços sejam distintos, urna e túmulo guardam relação. A primeira traz consigo a possibilidade de colher, acolher, registrar, somar e publicizar a opinião, a decisão de um eleitorado a respeito de uma candidatura. A segunda, a noção de que nada está morto. Aparentemente estáticos, corpo e alma se diferem e um desses personagens é revivido e materializado novamente em atos, seres, expressões e políticas adotadas, após ciclos e ciclos de tempo. Como não comparar tais exemplos nas pessoas que saem às ruas para pedir a volta do regime militar? Como não relembrar que na data de ontem, em diferentes parques públicos da “república curitibana” cidadãos(ãs) adeptos(as) da formação de um estado sulista foram manifestar suas ideias e sensibilizar, pasmem, muitos outros vizinhos seus que aderem ao movimento como se fosse a solução dos problemas desse país.
Ainda que pese a liberdade de expressão ser um precioso e indelegável valor da democracia, mesmo que em construção, faz mais sentido refundar a atual República com novos parâmetros e com consciência crítica, com outros patamar de relações.
A campanha eleitoral para o primeiro turno, encerrada às 22 horas desse sábado, traz em si o mesmo discurso, a mesma dinâmica, a mesma promessa e a mesma convicção, salvo exceções raríssimas. E que bom que elas existem. Não se pode acreditar em promessas mirabolantes e que tudo resolvem sem se dizer de onde vem o recurso, de qual fonte ou parceria será extraída a concretização da obra. Exemplos de promessas mal cumpridas abundam as nossas mentes e nossas conversas.
A campanha foi mais curta, mais acanhada em recursos e em publicidade e poluição visual. Que chegue em breve o dia em que não mais seja financiada por nenhum cidadão isoladamente. Que seja apenas com recursos economizados publicamente de verbas hoje dispensadas para altos cargos comissionados, mordomias e benefícios a autoridades, aposentadoria vitalícia a governadores e presidentes, como se profissão tivessem exercido: a de governar. Há de chegar a data em que o posto de saúde, a escola, a prefeitura ajam com a mesma eficiência e rapidez que os Tribunais Eleitorais. Ele é também um serviço público. Dizer que não funciona bem seria um disparate. Só não busca o eleitor em casa para fazer o título, porque seria um “mal” exemplo de eficiência.
Que os futuros integrantes dos congressos nacionais espelhem-se na Venezuela. Naquela vizinha não é obrigatório o voto. Se a liberdade de expressão passa por também essa decisão, por que não abrir de vez a sua possibilidade?
Portanto, eleitores(as) do nosso Brasil contraditório e injusto, mas também inventivo, ao digitarem dois ou cinco números daquela máquina de fazer musiquinha, não deixem de comparar o gesto à pá de cal que podem estar sepultando a má política, o machista, o(a) candidato(a) enganador(a), o(a) sonegador(a), mentiroso(a), nepotista, corrupto(a) ou medíocre nas relações com o bem público.
O novo não passa apenas pelo dígito de seus dedos, mas, muito além, passa pelas ações diuturnas de cada pessoa na construção da soberania popular, da democracia participativa, da elaboração de propostas da comunidade que virem lei na Câmara. E isso dá bem mais trabalho e exige bem mais comprometimento. A luta é diária e ininterrupta e só a abraça quem rompe com a ingenuidade, servilismo, pensamento único, acomodação e assistencialismo.
A democracia representativa já morreu. Hoje apenas é a visita ao túmulo, digo, seção eleitoral.

LUIS ALVES PEQUENO, professor, educador popular, empreendedor na economia popular solidária. Curitiba/PR
  * Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Foto: http://viagemempauta.com/

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