A Alimentação saudável que merecemos


Com a chegada do horário de verão e o prenúncio de uma possível estabilidade no clima, o que pouco se pode garantir, nos últimos tempos, há uma forte tendência midiática para que as pessoas se preparem fisicamente para o verão. Uma das receitas que o mercado prega é as pessoas investirem alto em malhação em academias e outros centros de atividades físicas.
Numa outra linha de pensamento, não aliada ao mercado, mas à saúde integral da pessoa, em todas as estações do ano, o Dia Mundial da Alimentação – 16 de outubro provoca-nos a outra reflexão.
Dados recentemente pesquisados pelo empreendimento Maria Meira Economia Solidária e hoje rebatizado de Sinergia Alimentos Saudáveis revelam que as pessoas querem e preferem investir em alimentos sem veneno, sem conservantes. O percentual de 95% das 100 pessoas entrevistadas entre os dias 10 a 30 de julho/16 revelam que há uma preocupação com a qualidade dos produtos, a origem e a conservação dos alimentos, principalmente as folhagens e leguminosas.
Essas pessoas, na maioria mulheres, entendem que se habilitariam a receber em casa alimentos agroecológicos, de fonte segura. Tal afirmativa revela que há um grande campo a ser construído na aliança entre campo e cidade, entre quem produz, quem comercializa e quem consome.
Outra realidade revelada pelo Banco de Alimentos, instituição civil que presta serviços na área de alimentação saudável é quanto ao problema do desperdício. Alimentos são desperdiçados de várias formas: pela produção em excesso, ao caírem dos caminhões durante o transporte, ficando em estoque… Entretanto, boa parte do desperdício ocorre exatamente onde o alimento deveria ser aproveitado: na cozinha. O descarte de cascas, sementes e raízes que poderiam ser usadas em diversas receitas é um exemplo de como jogamos na lixeira o que deveria estar no prato. A alimentação sustentável combate este processo, por meio do aproveitamento integral, do planejamento na hora de ir às compras e da conservação. Menos lixo acumulado, menos dinheiro gasto em vão e melhor distribuição de mantimentos. Tudo isso com pequenas mudanças no dia a dia.
A mudança de hábitos vem sendo vivida em grande parte por pessoas de pouca idade, o que revela que grande parte das gerações mais antigas têm dificuldade de encarar a possibilidade de adesão aos hábitos veganos, vegetarianos, agroecológicos ou mesmo ao consumo de orgânicos. Muito embora se saiba dos efeitos nocivos dos alimentos com veneno, continua-se a investir neles. Ou por conveniência, preço, comodismo, ou por preguiça de ir atrás.
Como é bom saber que agricultores(as) agroecológicos(as) em todo o país vem investindo fortemente na nova modalidade de produção, transformando sua antiga prática de contaminar o solo e o ambiente com veneno e outros insumos químicos, em outras que se harmonizam com o que a natureza tem a oferecer.
As principais metas e iniciativas do Planapo – Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, do Ministério do Desenvolvimento Agrário previam até 2019, investir na promoção do etnodesenvolvimento dos povos e comunidades tradicionais, povos indígenas e assentados da reforma agrária, além de apoiar a produção, beneficiamento, armazenamento, distribuição e comercialização dos produtos da sociobiodiversidade e a ampliação de sua visibilidade e consumo.
Outras iniciativas são:
·            A vinculação deste plano com a Política de Assistência Técnica e Extensão Rural - Ater, para 1,868 milhão de agricultores familiares, assentados da reforma agrária e povos e comunidades tradicionais sendo 50% mulheres;
·              Manutenção das taxas de juros de 2,5% a.a para os financiamentos de base agroecológica e orgânica;
·         Continuidade do Programa de Fortalecimento e Ampliação das Redes de Agroecologia, Extrativismo e Produção Orgânica (Ecoforte), com ampliação das redes apoiadas;
·          Assentamento de 120.000 famílias em projetos de assentamentos de reforma agrária, com o fim de assegurar a adoção de práticas agroecológicas, priorizando projetos ambientalmente diferenciados.
E isso não é pouca coisa. Uma revolução, se o governo Temerário mantiver.
Alimentar-se bem é preciso. E não há que se pagar mais por isso. Apenas o que é justo.

LUIS ALVES PEQUENO - professor, educador popular, empreendedor na economia popular solidária. Curitiba/PR
                       
  * Reprodução permitida, desde que citada a autoria.

Com informações: http://bancodealimentos.org.br/

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