As lições que os(as) Estudantes nos dão
A
tentativa fracassada do governo Temerário de mexer nas regras, conteúdos e
disciplinas do Ensino Médio sem discussão ampla com a sociedade continua a
produzir efeitos maravilhosos.
Segundo informações oficiais do movimento
Ocupa Paraná, durante a escrita deste texto, na data de 15 de outubro, início
da manhã, são 444 escolas e 6 universidades ocupadas em todo o Estado.
Aquilo que era um fenômeno tido
como isolado, restrito apenas aos estudantes de São José dos Pinhais,
reverberou de tal forma que se espalha até outros Estados da nação. Realmente os(as)
secundaristas não estão para falta de diálogo. Querem o diálogo.
De forma impressionante, sem
grana, sem muita burocracia e com a ousadia que a própria idade lhes
possibilita, adolescentes e jovens, apoiados por seus pais e professores,
funcionários da e algumas direções escolares, protagonizam um grande fórum de
debates sobre o que é Educação, o que é e o que deveria ser a Escola.
Ao visitar uma dessas
experiências, no Colégio Estadual Pedro Macedo, bairro Portão, em Curitiba,
vivemos e apreciamos o que aqui é impossível de materializar em letras. A
galera tem se portado de um jeito único e nunca antes visto em nossa trajetória
pessoal de magistério, nas áreas pública e particular. Há um exercício de
autogestão e partilha de responsabilidades que vão desde o acesso ao portão,
onde se revista bolsas dos recém-chegados, checagem do documento de identificação,
anotação em livro próprio, interrogação sobre o que veio fazer no Colégio, são
só os primeiros atos. Percorrendo as instalações públicas, vê-se tudo no seu
devido lugar, limpo, arrumado, delimitado; cozinha assumida em rodízio de
participantes; limpeza idem; insumos para preparar as refeições estocados de
forma organizada e visivelmente pública, para o controle de estoque do que tem
e o que pode faltar; acompanhamento e intermediação de pais, responsáveis,
professores, instituições e pessoas voluntárias na ajuda e suporte; Rodas de
conversa, aulões para o Enem, voluntariamente assumidos por professores(as) de
todos os setores da cidade; Atividades culturais. Enfim, se não ouviram dizer
sobre a Comuna de Paris, experiência vivenciada por trabalhadores(as), nos idos
de 1871, mesmo sem conhecê-la, estão rememorando seus princípios e vivenciando suas
aspirações. Essas escolas jamais serão as mesmas.
Na roda de conversa com temática
alusiva à democratização dos meios de comunicação, em que eu e amigas, integrantes
da Frente Paranaense pelo Direito à Comunicação e Liberdade de Expressão
(Frentex-PR), nos dispusemos em animar, muito se construiu, de lá e de cá.
Todos(as) aprendemos mutuamente. Uma das estudantes agradeceu muito a nossa
presença dizendo que alguns adultos geralmente “não entendem” o que está
ocorrendo e temem pelo que pode ocorrer a partir de tal movimento. Outra
estudante diz que não há apoio integral de sua presença na Escola, por parte de
seus familiares. Mas, ainda assim, insiste no que acredita ser transformador.
Questionada pelo irmão mais velho se sabia o que estava indo assumir na ocupação,
confirmou positivamente, sem titubear.
Não ao o que temer para aquilo
que é explícito, líquido e certo. O Ensino Médio precisa de mudanças, mas não
de retrocessos. E é essa a certeza que move a todos(as): profissionais da
educação, estudantes, comunidade escolar.
Retornar, 25 anos mais tarde ao
colégio em que estagiávamos e onde aprendemos os primeiros passos sobre o
magistério e a arte de ensinar-aprender, já é uma experiência agradável.
Visitá-lo num contexto educativo, pedagógico, de luta e resistência, de
proposição e aprendizagem como o que ora estamos presenciando, experiência ainda
mais inesquecível.
Se o (des)governo Richa pensa
que conseguirá reprimir o movimento, engana-se redondamente. Ele não tem dono e
não tem líder, não tem sindicato e não tem instituto. Ele é fruto da própria
ineficiência estatal que não consegue transpor a medíocre tabela de conteúdos
arcaicos e a defasagem salarial que assola a vida e a profissão de nossos professores(as)
que hoje, em seu dia, têm mais a se preocupar, que comemorar.
A decisão judicial
de não conceder reintegração de posse das escolas estaduais, divulgada na manhã
desta sexta-feira (14), paralisa os pedidos de reintegração movidos pelo
governo do Estado, em trâmite na Vara da Fazenda Pública de São José dos Pinhais.
Isso é o reconhecimento de que o Estado precisa exercer aquilo que propaga. A democracia
e o diálogo não são discursos televisivos. O salto alto dos gestores e a
arrogância no trato com profissionais da educação tem seu preço. E nos
estudantes não manda o governo. Eles são responsabilidade dos pais ou responsáveis
e do próprio Conselho Tutelar, em último caso, que é instância governamental
municipal. Como seria uma reintegração de posse do Estado contra ele próprio?
Enfim, se há algo a fazer nesse
momento histórico e inédito, é aprender. Ouvir e ver com e de toda essa massa
de estudantes o que realmente pretendem para o presente, não para o futuro. As
mudanças que estão por vir com a participação deles(as) ainda não se sabe
quando e se se materializarão. A resistência já começou. Uma nova Política Pública de Educação está em gestação.
E pará-la, não tem mais jeito.
LUIS ALVES PEQUENO - professor, educador popular,
empreendedor na economia popular solidária. Curitiba/PR
*Reprodução do texto permitida, desde que citada a
fonte
Com informações de http://ocupaparana.org e https://www.facebook.com/BDFPR
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