Quando o Ensino Médio for transformador
A polêmica e indefensável
proposta do ilegítimo presidente brasileiro em flexibilizar os conteúdos do
Ensino Médio faz toda a sociedade refletir.
Segundo informações oficiais do MEC, de acordo com a
medida provisória, cerca de 1,2 mil horas, metade do tempo total do ensino
médio, serão destinadas ao conteúdo obrigatório definido pela Base Nacional. No
restante da formação, os alunos poderão escolher seguir cinco trajetórias:
linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas - modelo usado
também na divisão das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - e
formação técnica e profissional.
É fato que o
atual modelo exige mudanças. Porém, que sejam para melhor. A medida provisória
746/2016, publicada no Diário Oficial em 23/09, sem a devida discussão que se
faz necessária não só no Congresso, mas na sociedade e, em particular, nos
ambientes da comunidade escolar, revela o quanto ainda é frágil a democracia
participativa que é preciso construir nesse país.
As disciplinas
hoje obrigatórias na parte da Base
Nacional Comum são: artes, educação física, português, matemática, física,
química. As demais, pelo entendimento do
MEC, serão enfatizadas ou cursadas de acordo com o interesse do(a) estudante.
Aparentemente inovadora,
a proposta pode também trazer um certo desequilíbrio de pesos e medidas. As
disciplinas que contribuem para o pensar, refletir, intervir criticamente na
realidade, como filosofia, história e sociologia não poderiam jamais ser
eliminadas da obrigatoriedade, subjugadas à “escolha”. Há um contrassenso imperdoável
entre o discurso e a prática, inclusive dos meios não governamentais que jamais
deveriam se acomodar diante de tal assalto à criticidade transformadora de
adolescentes e jovens em fase de discernimento do que querem para a vida.
Disciplinas que, se bem ministradas, com profissionais formados
continuadamente, bem remunerados e com estrutura condizente com a necessidade
que a função exige farão toda a diferença na construção de um Brasil cada vez
mais instruído, crítico, participativo, cidadão integral.
Pode ser
justamente esses últimos elementos que o atual (des)governo tenta barrar, com
suas medidas retrógradas e a serviço da ignorância.
Vivemos, há 20
anos ou mais, um intenso mobilização de todos os meios e instâncias
governamentais ou não, empresariais ou fora delas para que todos abracem a
Educação como prioridade. Se isso estiver sendo devidamente priorizado e
fortalecido, por si só já seria suficiente para a rejeição absoluta e
inequívoca da medida “Temerária”. Entenda-se aqui a palavra Educação como muito
superior e transcendendo a ideia de escolarização.
As proposições que
se justificam no momento: 1) ampliar a base de formação crítica com artes,
filosofia, sociologia, geografia e história, desde o primeiro ano do Ensino
médio e ir recheando com outras optativas dos estudantes, mas que não abram mão do essencial no percurso: formação de criticidade e
consolidação de valores éticos, humanos, sociais; 2) ao se alterar o percurso formativo das
disciplinas, ampla discussão deve ser realizada desde as bases da comunidade
escolar, que é mais que os profissionais da escola, envolvendo os pais,
estudantes, num crescente movimento que passe por instituições de classe dos
trabalhadores em educação e outros especialistas, e que chegue até as decisões
do Congresso ou do Ministério da Educação com suficiente consistência; 3) Que
as disciplinas cursadas façam sentido ao jovem e instruam não apenas para o
mercado de trabalho mas, sobretudo, para a vida, para a maturidade do exercício
de cidadão(ã) consciente, engajado(a), comprometido(a) com o que é útil para a sociedade
brasileira; 4) Antes de adotar o tempo integral para o ensino médio, que se
adequem as estruturas das escolas, em 5 anos, com dotação orçamentária
suficiente e capital humano bem remunerado e bem qualificado para a atuação
profissional.
Lutar por
melhorias é preciso. Propor mudanças consistentes, também.
LUIS ALVES PEQUENO, professor, educador popular,
empreendedor na economia popular solidária. Curitiba/PR
Com informações de http://agenciabrasil.ebc.com.br/
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