A GREVE É POLÍTICA


Liste-se aqui, para profunda reflexão, mais essa expressão: “essa greve é política” que, se não é, parece ser um pleonasmo vicioso. São aquelas falas que as pessoas, de forma não pensada, dizem a mesma coisa, por duas vezes seguidas e sem necessidade: “entrar para dentro”, “subir para cima”, “elo de ligação”.
A narrativa de que uma greve é uma ação política é mais uma das coisas óbvias que a civilização já devia ter absorvido. Quando uma pessoa comum ou mesmo um patrão, uma autoridade, um comunicador, na imprensa, reafirma essa redundância, na verdade está querendo desqualificar a ação grevista. Há uma clara intenção de colocar você contra outros(as).
Pegando por base a cultura ainda vigente, da submissão, do servilismo, de não haver amparo a ação de um trabalhador(a), vista por outro seu semelhante, constata-se que a ideia da parada de trabalhar, instintivamente seja pensada como vagabundagem, preguiça, folga. Muito pelo contrário, quando uma categoria profissional decide pela ruptura da rotina de trabalho é porque todas as anteriores tentativas de acordo e diálogo se mostraram ineficazes. E a previsão legal na Constituição Federal ampara tal medida extrema.
Ninguém, em sã consciência, faz greve por que quer. É levado(a), coletivamente a assumi-la, ainda que as consequências sejam inevitáveis. Você conhece alguma greve ou paralisação em que pelo menos uma consequência direta não seja vivida por envolvidos ou mesmo terceiros? Impossível não identificá-las. Os protagonistas, seus familiares, usuários(as), clientes, cidadãos(ãs) são direta ou indiretamente atingidos(as) pela ruptura de um serviço, no trânsito, no hospital, na delegacia, na escola, na loja... mas, não há comparação quanto ao reflexo de uma breve no banco. Até mesmo o posto de saúde e a escola perdem para o banco, se comparada a famigerada ideia do lucro, do dinheiro em circulação.
Uma instituição bancária, espelho máximo do capitalismo e da concentração de dinheiro, não sobrevive sem a velha e máxima regra: lucrar sempre, seja pelo serviço prestado ou, se pudesse, pelo ar respirado durante a estada do(a) cliente na agência.
Segundo a Federação Estadual dos Bancários(FEEB/PR), o Itaú lucrou R$23,35 bilhões, no ano de 2015 e a Caixa, R$7,2 bilhões, só para citar exemplos. No caso do banco Itaú, a alta foi de 15,4% na taxa de lucro. Leia-se, taxa de exploração do patrão sobre o trabalho humano, seja do seu funcionário(a) ou do(a) cliente que lhe pede serviços. Porém, na hora de partilhar essas fortunas com os trabalhadores(as), que contribuíram para que essa soma fosse possível, migalhas são oferecidas. Some-se a isso o ramo financeiro ser o campeão na ambiência para a praga do assédio moral, entre chefias e funcionários(as), bem como outros males que afetam diretamente a saúde do trabalhador(a).
A Confederação Nacional dos Bancários (Contraf) argumenta que no ano de 2011, 29% dos trabalhadores do setor pediram o fim do assédio moral. Em 2012, o número aumentou para 31%. Em 2013, para 58% – de um total de 37 mil entrevistados. Ou seja, o índice dobrou de 2011 para 2013. Note que não está se falando em grana, mas em condições dignas de trabalho, já que toda forma de constrangimento, repetido e intencional afeta diretamente a saúde humana.
Outros dados apontam que entre 2012 e 2015, o setor já reduziu mais de 34 mil empregos e os banqueiros choram a medíocre oferta de 6,5% de acréscimo ao atual salário dos bancários(as) em greve.
Portanto, ao se deparar com a informação de que “Essa greve é política”, não estranhe, nem discorde. Toda ação humana para o bem comum é uma ação política. Tire a política, a ação, a atitude prática de sua vida e você não conseguirá ao menos trocar de roupa; escolher que ônibus ou rua tomar; em qual ramo de negócio atuar. Tudo é política. Até o ato de concluir aqui esse texto.

LUIS ALVES PEQUENO
professor, educador popular, empreendedor na economia popular solidária. Curitiba/PR  
garraefe@gmail.com



* Reprodução autorizada, desde que citada a fonte.

Foto:
trabalhadoresdaebserh.blogspot.com.br
Informações:
feebpr.org.br/lucroban.htm
economia.ig.com.br/2014-04-24/de-cada-dez-denuncias-de-assedio-moral-no-brasil-tres-sao-contra-bancos.html


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