A Independência que não vem



    

Dizem, autores e livros, que o Brasil se tornou independente de Portugal. O cordão umbilical, tal qual um parto, foi rompido, mas a dependência continua tão latente quanto o pulsar de um coração.
Há 16 anos, em universidade estadunidense, o ex-ministro da Educação, Cristóvam Buarque, atual senador golpista, fez uma linda declaração de soberania nacional sobre a Amazônia:
“...Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriam  pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.
Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa."
Sabendo que o mundo da política partidária é contraditório, conveniente, vale ressaltar que a resposta dada ao repórter estadunidense fez e faz todo o sentido.
O mercado neoliberal está de olho nos ainda abundantes recursos naturais da “Pátria mãe gentil”. Pouco importa se a fila do posto de saúde não se compara à eficiência dos Tribunais Eleitorais na emissão do Título de Eleitor(a); Se o artigo 7.o da Constituição Federal é descumprido na íntegra, quanto à garantia de:  “... salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo,...”.
No (des)governo de Temer, o seu serviçal José Serra, atual ministro golpista das relações exteriores, já concedeu uma fatia do pré-sal ao capital internacional. Ainda senador, emplacou o projeto de lei 131/2015, que renova a participação obrigatória da Petrobrás na exploração do petróleo na camada do pre-sal. Agora ministro, consagrou o negócio de US$ 2,5 bi a uma petrolífera norueguesa. 
E o fará sempre que o Congresso Nacional favorecer e a maioria da população brasileira pacata e ordeira consentir. Foi assim com a Vale, com o Banestado e muitos outros bens um dia públicos.
Inegável que a frágil democracia que vem sendo esboçada há 3 décadas, ainda não nos assegura a independência, muito menos a soberania, a entendendo como pura expressão da vontade de um povo, do qual emana o poder que alimenta todas as demais instâncias da máquina do Estado Brasileiro.
Tramas em gabinetes e outros espaços não públicos ou transparentes, influirão nos rumos de uma nação inteira. A própria pá de cal no voto de 54 milhões de brasileiros(as) nas eleições presidenciais de 2014, através do impeachment arquitetado e televisionado é a prova mais evidente e recente da eterna servilidade e dependência dessa nação.
De forma constrangedora e desconfortável, graças a meios de comunicação alternativos ao televisor, há informações e comparações claras na imprensa, em diferentes continentes, condenando o recente Golpe de Estado midiático-parlamentar-jurídico.
No dia da “Independência do Brasil” há multidões, nesse momento, nas ruas, aplaudindo coturnos e tanques, num misto de histeria e saudosismo, de orgasmo múltiplo e de civismo pacato e serviçal.
Felizmente há as gentes, também em marchas, das mais diferentes origens, seguimentos e lutas, e que não são multidões, mas que gritam e ecoam suas reivindicações por um mundo diferente, possível e já em curso. O projeto popular nunca foi apenas sonho. Ele é construção diária que, aliás, extrapola as urnas. A cada eleição isso fica mais cristalino. A luta por um país melhor não se resume ao voto. Ao contrário, o voto ingênuo favorece o retrocesso acelerado que vem colocando, em postos chave, pessoas nem um pouco comprometidas com o que há de interesse coletivo.
Não marche comandado(a). Se marchar, o faça pela soberania de uma nação que tem muito a se construir, se respeitar, se assumir.

LUIS ALVES PEQUENO
professor, educador popular, empreendedor na economia popular solidária. Curitiba/PR  
garraefe@gmail.com

* Reprodução autorizada, desde que citada a fonte.

Foto:
gritodosexcluidos.org

Com informações: 

jusbrasil.com.br; brasil247.com; portalbrasil.net

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