Movimentos escancarados de lesa-pátria
José Álvaro de Lima Cardoso*
O golpe de Estado em andamento no Brasil tem vários objetivos: livrar
corruptos da cassação e da cadeia, desmontar o arcabouço de direitos sociais
e trabalhistas no Brasil, interromper a aproximação do Brasil com os demais
países que compõem o BRICS, etc. Mas uma motivação central é disponibilizar
às multinacionais do petróleo as imensas reservas de existentes no pré-sal. É
fácil entender o apetite imperialista: apenas o pré-sal pode conter 300 bilhões
de barris de petróleo. Se o preço do barril retornar ao preço médio superior a
80 ou 100 dólares, em função das articulações recentes da Opep (após chegar
a US$ 25, no fundo do poço, já voltou para US$ 50), estamos tratando de
recursos que ultrapassam os 30 trilhões de dólares, superior a 10 vezes o
Produto Interno Bruto do Brasil (o sétimo maior do mundo).
Não é por simples acaso, portanto, que a Petrobrás está no olho do
furacão desde o começo da crise e que montaram uma operação (Lava Jato)
para liquidar a Companhia e o seu entorno de empresas de engenharia. A
retirada da empresa da condição de operadora única do pré-sal, como
aprovado recentemente no Congresso, é só uma etapa. O objetivo é destruir a
Petrobrás enquanto empresa pública e entregar o pré-sal às multinacionais.
Desde o início do processo o alvo obsessivo da Lava Jato tem sido a Petrobrás
e as empresas nacionais de infraestrutura que compunham, de alguma forma,
um projeto nacional de desenvolvimento que se configurava no país. Projeto
este que foi fortemente alavancado pela descoberta do pré-sal, que alterou a
inserção internacional do Brasil na questão energética mundial.
Certamente não foi apenas por desconhecimento absoluto de
fundamentos de economia que, desde o seu início, os membros da Operação
Lava Jato adotaram a postura de “estrito cumprimento da lei”, sem nenhuma
preocupação com os empregos e a sobrevivência das empresas nacionais.
Houve resistências, inclusive, por parte dos procuradores da Lava Jato, à
própria aprovação da lei de leniência, mecanismo que permite que os
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responsáveis pela corrupção nas empresas sejam punidos, mas as empresas
(tecnologia, empregos, ativos) sejam preservadas e continuem operando.
A visão predominante entre os responsáveis pela Lava Jato era a de que
o Ministério Público e demais órgãos de investigação não tinham nenhuma
responsabilidade com os efeitos econômicos e sociais da Operação. O
resultado dessa postura, todos vimos: queda de 2,5 pontos percentuais do PIB
de 2015 e a perda de cerca de 500 mil empregos. Em qualquer país o agente
público minimamente responsável tem que procurar punir os responsáveis
pelas falcatruas, mas sempre procurando preservar os empregos e as
empresas. Especialmente quando se está tratando da maior empresa da
América Latina, e da maior companhia de petróleo do mundo (entre as de
capital aberto), com elevado valor estratégico para qualquer projeto de nação
soberana.
Um fato intrigante à época da discussão sobre a lei de leniência, em 2014
e 2015, foi o Ministério Público Federal ter solicitado ajuda, no processo de
investigações as autoridades americanas, diretamente interessadas na riqueza
do pré-sal e no enfraquecimento da Petrobrás. É evidente que há um conflito
de interesses nesse tipo de consulta. Imaginem se tivesse ocorrido o contrário,
se o FBI solicitasse auxílio à polícia federal brasileira em relação à eventuais
denúncias que se somassem contra a ExxonMobil, gigante norte americana do
setor petrolífero?
Os golpistas estão fatiando a Petrobrás, na surdina e sem consultar o seu
dono, o povo brasileiro. A nova direção da Petrobrás, com sua política de
privatização mal disfarçada, vem abrindo espaços crescentes para as
multinacionais. O novo Plano de Negócios e Gestão 2017-2021 prevê redução
dos investimentos da empresa para os próximos cinco anos. Recentemente o
presidente da companhia, Pedro Parente, desdenhou os recursos do pré-sal,
afirmando que houve “endeusamento” da jazida. Parente desdenha porque tem
pressa de entregar. Mais do que isso, Parente já externou que quer transformar
a empresa numa produtora de óleo cru, com expressão menor na economia
brasileira. Em decorrência dessa visão, a Petrobrás vendeu recentemente a
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sua participação de 66% no campo Carcará, no pré-sal na Bacia de Santos, à
petroleira estatal norueguesa Statoil, com grandes prejuízos. Além disso, está
vendendo 90% da sua maior e mais lucrativa malha de gás, a Nova
Transportadora do Sudeste (NTS), subsidiária que responde pelo escoamento
de 70% do gás natural do país.
Este processo de desmonte está andando celeremente. A ideia é entregar,
o mais rápido possível, a maior província de petróleo descoberta no mundo
neste milênio. Até porque, não se sabe quanto tempo esse governo durará. Por
exemplo, a imprensa noticiou que a direção da Petrobrás pretende construir
uma refinaria e um polo petroquímico no Maranhão, em parceria com os
governos do Irã e da Índia. Segundo as informações, o projeto é importar
petróleo e produzir derivados para comercialização no mercado brasileiro.
Neste momento, o dever de todo brasileiro que ama o seu país é denunciar o
golpe de Estado em andamento e todos os seus dramáticos malefícios, que já
recaem sobre a nação.
foto:http://observatoriodotrabalhador.blogspot.com.br/
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