Exceção ou “Esses, São”?
foto: Reprodução MST
Há meses, ouve-se em depoimentos, entrevistas, autoridades e
personalidades sem mandato público falarem que o Brasil vive um momento de
Estado de Exceção. Mas o que significa o termo Estado de exceção? Convencionou-se
mundialmente entre as nações, que é uma situação oposta ao Estado de direito,
decretada pelas autoridades em situações de emergência nacional, como agressão efetiva por forças estrangeiras, grave
ameaça à ordem constitucional democrática ou calamidade pública.
Caracteriza-se pela
suspensão temporária de direitos e garantias constitucionais, que proporcionam
a necessária eficiência na tomada de decisões para casos de proteção do Estado,
já que a rapidez no processo de decidir as medidas a serem tomadas é essencial
em situações emergenciais e, nesse sentido, nos regimes de governo democráticos
- nos quais o poder é dividido e as decisões dependem da aprovação de uma
pluralidade de agentes - a agilidade decisória fica comprometida.
Pois é justamente
por conta dessa inversão de valores, dessa confusão de atribuições dos poderes
estatais que a população brasileira está pagando um alto preço em suas
liberdades democráticas. Que ameaças estão em curso? Estrangeiras? Calamidade
pública?
Vejamos algumas das últimas evidências disso:
O golpe de estado
tramado pela direita reacionária, em conluio com setores do judiciário e apoio
irrestrito de grandes veículos de comunicação, ou manipulação, como mais
adequado seria o nome, não é fruto da vontade do trabalhador(a);
A ocupação de
diversos prédios ligados ao Ministério da Cultura, em todo o Brasil, conhecido
como Movimento OcupaMinc foi a primeira das resistências em rede, organizada e
apoiada por amplos setores da sociedade civil, resultando em recriação do
Ministério da Cultura, anteriormente anulado pelo governo Temerário;
As ocupações
escolares conhecidas como Primavera Secundarista, iniciadas recentemente no
município de São José dos Pinhais/PR, reverberadas pelo Paraná inteiro,
chegando a 850 escolas e estendidas a diversos estados brasileiros, incluindo dezenas
de Universidades e Instituições de ensino superior públicas é outro fato
marcante da recente história de resistência ao golpe;
Não bastasse a
tentativa de Medida Provisória flexibilizando disciplinas do ensino médio, a Proposta
de Emenda Constitucional 55 tramita no senado federal, congelando pelos
próximos 20 anos os gastos do Governo Federal com qualquer investimento. Não
importa se a população cresça, se o PIB aumente, se as condições internacionais
interfiram. Para tudo, e pronto;
Contrariando a exigência
legal de mandato de busca e apreensão; exageradamente equipada; não
identificada nos uniformes, a Policia Civil de São Paulo, amparada e assistida
pela paranaense, literalmente invade a Escola Nacional Florestan Fernandes,
administrada por lideranças do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra. Instituição
legítima e legalmente constituída por personalidades da sociedade civil, a
Escola forma politicamente pessoas para construírem e organizarem a luta dos trabalhadores(as)
seja no campo ou na cidade.
Para não se alongar
em mais inúmeros exemplos, peguemos o último pra refletir:
Como é que um
aparato policial, sem autorização judicial, chega a uma escola, adentra suas
instalações com o uso de armas em punho, como se estivesse num campo de
batalha, inclusive atirando para demonstrar poderio? A arma do inimigo, grupo
de estudantes e funcionários da Escola, extasiados e não acreditando no que
vêem, apenas o conhecimento, a sabedoria, a inteligência. Tanto a usaram que
não resistiram. Ainda assim, com o argumento de desacato, levaram dois
funcionários da escola para a Delegacia. Espantoso, não?
E qual era o
argumento policial para estar no ambiente? A procura de uma pessoa. Que lá não
estava. Seria isso apenas e tão somente que lhes motivou a ir até o espaço de
formação com tantas viaturas e tanto armamento?
Se a maçonaria, os
clubes esportivos, o meio sindical, as igrejas, o empresariado, o magistrado,
os parlamentos, o executivo, os partidos políticos têm suas escolas de formação,
treinamento, capacitação, não teriam também o direito os movimentos sociais de
estudarem, se politizarem e qualificarem para entender como funciona a vida, a sociedade,
a política e muito mais?
Isso fere mortalmente o pensamento hegemônico da burguesia e do empresariado, amparado por setores do judiciário, em especial em tempos de golpe.
Isso fere mortalmente o pensamento hegemônico da burguesia e do empresariado, amparado por setores do judiciário, em especial em tempos de golpe.
Estudar é preciso.
Se formar é preciso. Não há saber mais importante e relevante que o
conhecimento humano, lapidado a muitas mãos, gestos, atos e ideias. E ninguém
abafará essa preciosa virtude. Nem bala de canhão abafa o que já se consolidou
há séculos: a luta de trabalhadores(as) unidos(as), organizados(as) e cientes
do que pretendem.
A única exceção
consentida seja a da ignorância e analfabetismo político. Todo o repúdio à ação
orquestrada da polícia paulista e à criminalização, seja de quem partir.
Toda a solidariedade
aos movimentos sociais, em todas as suas reivindicações.
LUIS ALVES PEQUENO - professor, educador popular,
empreendedor na economia popular solidária. Curitiba/PR
*Reprodução do texto permitida, desde que citada a
fonte
Com informações de http://ocupaparana.org, http://wikipedia.com
e https://www.facebook.com/BDFPR
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