Presente trágico


E a noite caía, as pessoas voltavam do trabalho, sempre no seu ritmo frenético. Motos, carros, ônibus, caminhões, cada um entupia a já congestionada e principal rua do bairro Forquilhinhas, em São José. De repente, surge numa esquina qualquer dezenas de pessoas, meio que no escuro da penumbra do dia que se vai e da noite que se aproxima. Trazem, no meio da rua cartazes, faixas, pneus velhos e muita disposiçao de enfrentar o frio da noite de outono que teima em congelar-lhes os ossos. É sexta feira, parece que todos querem chegar ainda mais cedo a seus destinos. Porém existe como dizia Drumonnd "uma pedra no meio do caminho". Dessa vez eram pessoas no meio do caminho. Filhos e filhas, vizinhos, irmãos, curiosos, pai e mãe de Michel um garoto saudável e alegre que na semana anterior fora desviado de seus projetos de adolescente. Fora desviado de seus sonhos por uma estúpida e impressionante tragédia: testava sua nova aquisição: Sua bicicleta. Não sabia ele que o perigo do trânsito é traiçoeiramente implacável, com qualquer ser, com qualquer coisa. Não sabia ele que um caminhão carregado de alimentos, de grande empresa de frios e congelados, recem fundida a outra mega empresa do mesmo setor, lhe ceifaria o prazer da estréia do seu novo veículo.
Não sabia ele que nossas cidades são feitas para carros. Tão e somente carros têm importância. Nossas vias não têm a segurança devida para pedestres, para ciclistas, para motociclistas, etc.
Não sabia Michel que seus quinze anos a se completarem às 24h daquela noite não chegaria.
Ficou a lição para mim, que não o conheci, para os colegas do Colégio, para a vizinhança, para os cidadãos josefenses: com a VIDA NÃO SE BRINCA. Todo o cuidado é ainda ineficaz. Toda a prudência é necessária. Mas cabe a quem pensa a cidade um olhar humanizante. A coisificação de um bairro, a mercantilização pela qual passa a tão discursada "qualidade de vida" não pode perdurar. Aos acadêmicos, futuros engenheiros, urbanistas, sanitaristas, etc. caberá sempre a inquietação: como transformar tal modelo? Que viva sempre Michel em nossas memórias e lembranças de que é preciso mudar. Cada um a seu tempo e com as suas condições.

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