Boal pra sempre viverá

A partida de nosso eterno guru e estimulador, ator, dramaturgo, mestre e humilde aprendiz, Algusto Boal, 78 anos, nos deixa tristes. No entanto sua obra, sua vivência, seus ensinamentos, sua profunda contribuição artística e profissional para a transformação social, através do que mais sabia fazer, o teatro, serão inesquecíveis.
Criador do Teatro do Oprimido, recurso pedagógico aplicado no teatro para inverter o senso comum de que quem faz a cena é o ator e o público é mero expectador é conhecido no mundo todo. Por Boal o ator e o expectador se confundem, se assumem na mesma proporção de direitos, de possibilidades. Não haverá o que sabe e o que recebe; o que tem idéias e o ignorante; o bom e o insignificante. A cena primeira é repetida tantas quantas vezes necessárias e protagonizada por pessoas diferentes, do público que personificarão o personagem em questão na tentativa de resolverem a questão que lhe afligia. A opressão é transformada em solução, é encaminhada, é assumida como passível de superaçao, sempre a partir da intervenção coletiva.
Boal está para o Teatro como Paulo Freire está para a Educação Popular. E não é que os dois conviveram e se ajudaram nos idos da década de 60 no nordeste brasileiro? Numa comunhão de interesses, sentimentos, compromisso e engajamento político e social sempre primando pelo respeito à diversidade e à sabedoria popular, construiram histórias, propostas, trabalhos populares, obras literárias e todo o legado de inspiração para nós, seus seguidores sermos o que somos.
Que festança enorme deve estar ocorrendo em algum lugar da imensidão do universo desconhecido. Devem estar reunidos Florestan, Ribeiro, Freire, Boal, Betinho.... e centenas de outros brasileiros e brasileiras memoráveis que nos deixam orgulhosos de termos uma rica cultura e um rico arsenal de ferramentas para amenizarmos o triste e desalentador cenário das realidades que nos cercam. Que a vida deles nos inspirem sempre. E hoje terá alegria? Terá, sim senhor!