Finados antecipado
Hoje não é data de honrar os
mortos ou nossos antepassados, mas essa data de 11 de julho de 2017 pode ser
considerada como antecipação de Finados, visto que a morte da Consolidação das
Leis do Trabalho – CLT foi expressamente realizada no Congresso Nacional da
Ex-República Democrática do Brasil. Aquele país em que havia uma Constituição
Federal que, antes de rasgarem-na, ainda que mantendo o sistema capitalista
altivo e a burguesia viva e atuante, formatava uma série de novos direitos aos
empobrecidos ou em ascensão social. Esses direitos, conquistados a duras penas,
com mortes, suor e sacrifício de uma classe sempre ousada: a trabalhadora.
Na data de hoje, onde 50
votos contra 26 enterram de vez os direitos
trabalhistas até então vigentes, reforça-se a urgente necessidade de
reorganização das forças populares e instituições sérias da sociedade civil
organizada para se formatar o HD do sistema político instituído no país. As
expressivas votações, tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal,
evidenciam que nossas gentes precisam repensar e agir sobre suas representações
no parlamento. Ou seja, os que ali votam são paradoxalmente algozes da vontade
da maioria da população. Estão lá não por milagre ou vontade divina e se
arrogam legítimos em suas arbitrariedades. Foram votados.
Mas vamos aos fatos: 30
minutos de refeição são suficientes para uma pessoa se alimentar, porém não
para o devido repouso e descanso, distração e relaxamento que ERAM previstos na
CLT;
O fim da Contribuição Sindical
obrigatório ERA defendido pela maior Central Sindical das Américas. Isso será
termômetro para mostrar a ação eficaz e atuante de um sindicato de fato. Os
sindicatos cartoriais, aqueles apenas de CNPJ, não se sustentarão. Ainda que
simpática tal medida, não legitima as demais. Aliás é sempre bom refletir. Os
parlamentares pensam também em acabar com a espinha dorsal dos Sindicatos
Patronais que também recebem recursos das empresas que a ele se associam ou
mesmo não associadas a eles se submetem no ordenamento jurídico, como é o caso
da Convenção Coletiva de Trabalho? Ou terão os senadores e deputados gana de
exterminar apenas e tão somente com o livre arbítrio de cada trabalhador ou
trabalhadora? Porventura a maioria deles(as) são trabalhadores(as)? Já tiveram
carteira assinada e um chefe? E mesmo que tenham realizado tal experiência se
esqueceram dela?Até porque não se ouve, vê ou lê-se trabalhadores(as)
reclamando da situação da empregabilidade. Pelo contrário se ouve de senadores
e deputados a fala torta de que a sociedade brasileira clama por mudanças na
CLT. De qual sociedade fazem menção? Será que estamos míopes?
O negociado pelo
legislado hoje aprovado quer dizer: o que patrão e empregado combinam não
terá interferência alguma de outra parte, como a Justiça do Trabalho, tal qual
ERA na condição de o trabalhador(a) ter sido lesado(a) em alguma prática
patronal. Antes se recorria ao sindicato. E agora? Provavelmente o(a)
trabalhador vá á Igreja orar ou ao açougue para pedir ao comerciante um aconselhamento.
Repara o dano?
Flexibilizar horas da
jornada
trabalhista aparentemente é ótima medida. Mas, convenhamos, se o patrão não
quiser que se trabalhe na sexta feira e venha atuar no sábado o dia todo, alguém topa esse acordo? Afinal a vida da
pessoa é só o trabalho mesmo, sem lazer, sem o exercício de atençao familiar,
sem a vida em comunidade, sem o culto ao sagrado, sem a formação estudantil ou
aprimoramento profissional… E se a chefia inventar que não quer jornada pela
manhã e que pretende modificá-la temporariamente para a tarde e à noite, o
valor da hora trabalhada é o mesmo? O risco de voltar para casa no período
noturno é igual? Isso NÃO ERA permitido na CLT. Passou das 22h00, há adicional
no salário.
A gestante e a lactante
tem a mesma condição física de suportar uma exaustiva carga de trabalho num
determinado local, ainda que ele tenha locais considerados insalubres?
Será que a mulher continuará
por mais dez décadas a fazer o mesmo trabalho que o homem e receber valor
inferior?
São tantas as mudanças
lesivas à nossa classe de trabalhadores(as), que não cabe alongar-se a citar
todas. Enquanto isso, setores da mídia e do empresariado aplaudem as mudanças
como modernas. Ora, se modernidade é lascar em nosso lombo o que nossos
antepassados já reprovaram, agradecidos estamos. Não aceitamos tal agrado. E
se, por força de lei, tivermos que nos submeter a regras injustas e precárias,
de novo teremos a escolha: agradeçamos a oportunidade do emprego, mas
escravos(as) recusaremos a sê-lo. Outra economia é possível e já começamos a
vivê-la. Resistência, sempre! Voto não é
única medida de transformação!
LUIS ALVES PEQUENO - professor, educador popular, empreendedor na
economia popular solidária. Curitiba/PR
*Reprodução
do texto permitida, desde que citada a fonte
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