Câmara Esquizofrênica




    Lá pras bandas de minha terra há um ditado de que o peixe morre pela boca. Pois foi bem isso que ocorreu com o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cassado pelos seus pares em sessão histórica, memorável e com direito a choro e lamentação.
    A arrogância do até então todo poderoso, sua impafia e ameaçadora defesa não ecoaram nos ouvidos de 4 centenas de deputados(as), que proferiram seu voto pela cassação do mandato, diante da mentira de que o acusado não havia dinheiro algum em seu nome no exterior, apesar de farta documentação bancária da Suíça comprovando o contrário.
     O episódio recente pode iludir a ingênuos, porém não deixa dúvidas de que a Ética e a moralidade que alguns parlamentares tentam emplacar, está, na essência, revestida e maquiada por interesses pessoais, corporativos, sombrios e a serviço não de uma nação inteira.
    Alguém se esquece da fatídica sessão de domingo de abril em que uma Presidenta da República foi ali julgada como passível de punição pelo impedimento, por supostos crimes até hoje não comprovados cabalmente, porém, mesmo assim, puníveis com a perda de mandato?
     Alguém se esquece de projetos de lei  bombásticos para a vida da classe trabalhadora, em especial, tramitam a tempos de um raio de luz, contra interesses de uma população ainda atordoada com os últimos acontecimentos de troca de comando no governo federal, através de um golpe de Estado midiático jurídico parlamentar, em que muitos dos ali presentes votaram por sua família, como se estivessem num leilão da nova geladeira a compor o mobiliário doméstico?
     Ou alguém ainda duvida de que tantos quantos projetos de interesse nacional  e da maioria da população, em especial a empobrecida economicamente, vão passar a toque de caixa em nome de um estado enxuto, mínimo, privatista e repressor? São 55 projetos que tramitam no Congresso Nacional, entre eles: 1. Regulamentação da terceirização sem limite permitindo a precarização das relações de trabalho (PL 4302/1998 – Câmara, PLC 30/2015 – Senado, PLS 87/2010 – Senado); 2. Redução da idade para início da atividade laboral de 16 para 14 anos(PEC 18/2011 – Câmara); 3. Instituição do Acordo extrajudicial de trabalho permitindo a negociação direta entre empregado e empregador (PL 427/2015 – Câmara); 4. Impedimento do empregado demitido de reclamar na Justiça do Trabalho (PL 948/2011 – Câmara e PL 7549/2014 – Câmara); 5. Suspensão de contrato de trabalho (PL 1875/2015 – Câmara); 6. Prevalência do negociado sobre o legislado nas relações trabalhistas (PL 4193/2012 – Câmara).
      As cenas do dia 12 de setembro não devem iludir a ninguém. Eduardo caiu, mas suas articulações e apadrinhados, seus filhos da Política Partidária continuam com mandato, status e foro privilegiado.
     As ruas cheias de gentes, como devem estar nos próximos tempos, ainda são a melhor fórmula, e essa nunca caduca, de resistência, proposição, diálogo, construção de outras formas de fazer política, de mudanças estruturais na estrutura da legislação. E isso demora, mas já está em curso. “Diretas já” é a primeira pauta, urgente, necessária e irreversível, depois as considerações sobre uma Constituinte Exclusiva e Soberana, onde o poder emane realmente do povo. Há muito que se construir.  E não tem arrego.

LUIS ALVES PEQUENO
professor, educador popular, empreendedor na economia popular solidária. Curitiba/PR  
garraefe@gmail.com
* Reprodução autorizada, desde que citada a fonte.

 Com informações:
 pragmatismopolitico.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas